Dra. Maria Elizabeth Menezes
No mundo das instituições, os protocolos exercem a importante função de nos situar e nos alinhar com o grupo no qual estamos inseridos, com seus objetivos, valores e condutas. Mas essa noção não nos afasta de uma premissa mais fundamental: a das conexões que antecedem e sustentam as relações interinstitucionais. É no plano dos relacionamentos humanos que a realidade acontece.
Em 2025, a SBAC trabalhou intensamente para solidificar as relações com entidades internacionais, com as quais temos o potencial de amplificar o impacto e o alcance de nossas ações enquanto sociedades científicas comprometidas com a excelência do diagnóstico laboratorial. E aqui eu falo especialmente da aproximação técnico-científica com a IFCC (International Federation of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine), em algumas ações conjuntas que iniciamos nestes últimos meses.
Uma delas é a disseminação de conhecimento por meio da plataforma de educação da IFCC. Estamos assinando uma carta de intenção para formalizar um projeto interinstitucional para tradução e divulgação dos cursos e programas que a federação disponibiliza, e aos quais todos os sócios da SBAC poderão ter acesso. Eu tenho contribuído diretamente com essas traduções, junto de outros especialistas da SBAC, pois educação é mais do que um compromisso institucional – é uma causa e, também, o nosso passaporte para o futuro.
A IFCC também demonstrou profundo interesse pelo projeto de cooperação entre países de língua oficial portuguesa, estabelecido em 2015 pela Sociedade Brasileira de Análises Clínicas, por meio da UniSBAC, com o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), órgão público integrado ao Ministério da Saúde de Portugal. O ProMeQuaLab (Projeto de Melhoria da Qualidade Laboratorial para Países de Língua Portuguesa) é feito por pessoas que dedicam seu tempo, voluntariamente, a levar as melhores práticas da qualidade laboratorial para todos os territórios que o programa abrange – além de Brasil e Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor -, de forma a beneficiar as populações desses países.
Parcerias interinstitucionais são mais do que contratos; elas são redes de pessoas conectadas por interesses em comum. É por isso que me agrada saber que o futuro presidente da IFCC, que assumirá o mandato em janeiro de 2026, é um “dos nossos” – o Prof. Nader Rifai vem do mundo da biologia molecular, é professor catedrático de Patologia na Harvard Medical School e um grande articulador das causas do diagnóstico laboratorial. Ele ouviu falar dos movimentos que estão acontecendo no Brasil – a defesa de uma Política Nacional do Diagnóstico Laboratorial, liderada pela SBAC – e me procurou para conversar. Perceba o que significa esse encontro: duas sociedades científicas expandindo a sua capacidade de gerar impacto positivo, por meio do que venho chamando de atuação político-científica – sim, política, mas com respaldo dos princípios da ciência, que é a nossa origem.
Outra conexão iniciada em 2025 e que irá reverberar no nosso ecossistema, no próximo ano, é com o Prof. Mario Plebani, um dos mais influentes nomes da comunidade do diagnóstico laboratorial. Ele é professor de Bioquímica Clínica e Biologia Molecular Clínica na Universidade de Padova, na Itália, e chefe do departamento de Medicina Laboratorial no hospital da mesma instituição, reconhecida pelo pioneirismo na aplicação da inteligência artificial na fase pré-analítica do diagnóstico. E o conheci pessoalmente em Bruxelas (Bélgica), durante o congresso da IFCC, quando tive a oportunidade de convidá-lo antecipadamente para vir ao Brasil, em 2026, como palestrante do Congresso Brasileiro de Análises Clínicas. Ele imediatamente aceitou o convite e entendeu a importância de falar sobre IA para os pequenos e médios laboratórios.
Muito da minha atenção, por sinal, está centrada em como fazer com que os laboratórios de todo o País possam estar inseridos na atual evolução tecnológica. Não por acaso, o tema central do CBAC 2026 está em torno de como a inteligência artificial e a automação irão moldar o diagnóstico laboratorial – sem compartimentalizar. E o que eu quero dizer com isso? Precisamos usar a IA para unir todos os processos que constroem a jornada de um paciente, da gestão à bancada, de forma a ganhar celeridade na análise crítica de resultados e, de uma forma em geral, elevar os níveis de qualidade e segurança do paciente. Não podemos deixar a inteligência artificial para mais tarde, esperando a hora passar.
Como pano de fundo de tudo isso, está a Política Nacional de Diagnóstico Laboratorial (PNDL), proposta de política pública que visa integrar os serviços do diagnóstico laboratorial ao processo de atenção à Saúde no Brasil. A PNDL, que neste ano se tornou o Projeto de Lei 5478/2025, é um chamado à ação para que a nossa comunidade seja tratada como o que legitimamente é: um pilar da saúde pública, e que, portanto, demanda financiamento, estrutura e reconhecimento adequados. O PL está em trâmite entre as comissões pelas quais precisa ser submetida, e aqui não posso deixar de reconhecer o papel essencial do deputado federal Dr. Pedro Westphalen, que assumiu essa causa desde 2024, quando entregamos a ele, em mãos, o documento da PNDL, durante o CBAC daquele ano.
Para mim, como presidente da SBAC e representante dos laboratórios de análises clínicas, o ano de 2025 é mais uma demonstração do que a cola entre motivação pessoal e objetivos coletivos pode fazer. E, na raiz de toda conquista institucional, estão os encontros entre as pessoas, e o sentido de doar o próprio tempo para uma conquista comunitária – e, justamente por isso, longeva.