Desde o surgimento dos primeiros trabalhos voltados ao diagnóstico de enfermidades, consolidou-se o entendimento de que procedimentos complementares jamais poderiam ser afastados das investigações. Desta forma, sempre que possível, as primeiras atitudes clínicas na Antiguidade iniciavam pela busca de irregularidades em fluidos e sólidos biológicos.
É razoável concluir que as pesquisas diagnósticas, em sua esmagadora maioria, partiam de atividades que hoje enquadraríamos nas multisseculares ciências laboratoriais. Vale lembrar a relativa facilidade de obtenção de urina, fezes e, eventualmente, sangue periférico, à época mensurados em gotas.
Vieram de longe e caminham para muito mais além. Acompanharam e colaboraram, de muito perto, com todas as manifestações voltadas ao tratamento de enfermidades, fornecendo os subsídios, até então possíveis para elucidações diagnósticas.
Relatos da época indicam que tudo começou quando magos e curandeiros perceberam a avidez de certas espécies de formigas pela urina de diabéticos. Surgiram, assim, as primeiras manifestações e metodologias capazes de oferecer subsídios para a pesquisa de glicose em urina, fundamentais para o diagnóstico do diabetes. Essas formigas eram mantidas em reservatórios especiais, onde podiam se reproduzir sem se misturar a espécies similares que não possuíam tais “expertises”.
Referimos-nos do período compreendido entre os séculos VIII a.C. e VI d.C., em territórios que iam do Ocidente greco-romano, pela bacia do Mediterrâneo, ao Oriente Médio. Excluem-se, portanto, as tradições e tendências de saúde de regiões então mais antigas e evoluídas, como parte da China e da Índia, mundos totalmente diversos, e pouco conhecidos.
Importante lembrar que todas as atividades científicas eram mescladas com tradições, mitos e pitadas religiosas. Circunstâncias irreversíveis naqueles momentos. Os cientistas em destaque eram aqueles cuja formação caminhava para além dos estudos convencionais e incluíam hábitos de imersão em submundos, onde se aprofundavam tanto nas teorias religiosas vigentes, quanto em conteúdos equivalentes às pós-graduações.
Hipócrates, Aristóteles, Euclides, Sócrates, Arquimedes, Galeno e Ptolomeu, entre tantos outros, eram nomes centrais que, com base em conhecimentos adquiridos em ciências exatas, humanas e religiosas, encontraram terreno limpo e fértil para difundir obras, ideias e pensamentos.
Equivaliam aos formadores de opinião dos tempos atuais, porém com muito mais capilaridade, apesar das dificuldades de comunicação. Suas opiniões espalharam-se pelos mundos islâmicos, bizantinos, latinos e formularam as bases de muitas teorias em física, medicina, matemática e até cosmologia.
As ciências voltadas às doenças constituíam terrenos férteis. Imensas séries de investigações práticas, voltadas às relações da vida com a natureza, eram os principais alvos de estudo e avaliação.
As atividades em saúde não eram monopolizadas por uma única profissão. Não existiam métodos estabelecidos para formação, licenciamento ou aperfeiçoamento profissional. Havia discípulos de determinadas escolas que seguiam, de forma obstinada, aquilo que aprenderam.
Entretanto, os adeptos de Hipócrates eram mais numerosos.
Havia também os adeptos do culto de Asclépio, coletores de ervas, vendedores de remédios, treinadores de ginástica, parteiras e curandeiros.
Todos competiam pela difusão de ideias … e por clientes.
Debates públicos acalorados eram frequentes e versavam sobre derivações profissionais em saúde, bem como sobre causas e tratamentos de doenças. É clássico o debate sobre epilepsia, em que Hipócrates, no tratado Doença Sagrada, além de descrever a enfermidade, ataca seus rivais, os Curandeiros de Templo, por atribuírem-na à ira divina.
O legado da ciência grega, bem como sua posterior abertura, incluiu avanços de monta em zoologia, botânica, mineralogia e astronomia. De fundamental importância, estimulou o debate público, notadamente em temas que, quando discutidos e avaliados em praça pública, projetavam modos de vida mais avançados.
O trinômio saúde, cultura e saber caminhavam juntos.
Aristóteles, entre todos, o mais evoluído pensador, afastou-se de seu mestre Platão de forma lenta e gradual. As grandes diferenças entre ambos residiam no fato de Platão validar apenas o saber intelectual, enquanto Aristóteles partiu para a validação do empirismo, como expressão filosófica principal.
Após a morte de Platão, momento em esperava receber as chaves da Academia, o que não ocorreu, desligou-se do grupo e rumou para Artaneus, na Ásia Menor, onde recebeu o cargo de conselheiro político.
Em 343 a.C., retornou à Macedônia e foi nomeado professor e mentor intelectual de Alexandre, filho do rei Filipe II. Mais adiante, seu pupilo tornou-se o imperador Alexandre, o Grande. Em 335 a.C., foi concedido a Aristóteles a criação do Liceu, uma escola filosófica para transmitir seus conhecimentos aos novos discípulos.
Escreveu diversos tratados de lógica, nos quais legou métodos de reconhecimentos das formas por meio da linguagem.
A lógica, associada à matemática, abriu espaços para os julgamentos, em formas de enunciados, que permitiam constatar a veracidade ou não de seus conteúdos.
Ao longo do tempo, o crescimento foi vertiginoso. Desde o aparecimento dos primeiros microscópios, colorímetros de movimentação mecânica, centrífugas manuais, estufas e tantos outros equipamentos. A evolução desses instrumentos propiciou o surgimento de máquinas fantásticas, que compõem o novo laboratório ao proporcionarem a afirmação e crescimento de todas as atividades científicas.
Uma nova era surgia…(a continuar)