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Ômicron: qual é o tempo de isolamento adequado?

Em relação ao tempo de isolamento necessário para a nova variante da COVID-19, não existe resposta certa ou errada: independentemente das diretrizes de cada país, é necessário verificar esse tempo sob uma perspectiva individual e uma perspectiva de saúde pública.

Neste momento, a população acredita que deve ficar em isolamento durante cinco dias. Porém, para ter certeza de que outras pessoas não serão expostas, o mínimo necessário são dez dias de isolamento.

Em uma carta de endereçada ao vice-presidente da região Sudeste do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), Dr. Nésio Fernandes de Medeiros Júnior, o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Dr. Clóvis Arns da Cunha, recomenda sete dias de afastamento em isolamento respiratório domiciliar para os pacientes com COVID-19 sintomáticos, desde que estejam sem febre nas últimas 24 horas e com melhora dos sintomas. Para os que se mantém sintomáticos no sétimo dia, manter o isolamento por 10 dias.

Segundo a Dra. Melissa Palmieri, pediatra especializada em infectologia pediátrica e vigilância em saúde, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) regional São Paulo e médica da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, essa recomendação adota uma perspectiva pública com intenção de evitar a perda da força de trabalho. Atualmente, 30% dos profissionais da saúde estão contaminados pela variante Ômicron, logo essa recomendação existiria para não haver disrupção dos serviços essenciais.

Os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos reduziram ainda mais o período de isolamento recomendado para as pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2 que não apresentam sintomas: cinco dias de isolamento, sem necessidade de teste de antígeno. A American Medical Association (AMA) criticou a medida dos CDC, afirmando que ela pode favorecer a disseminação do vírus, colocando pessoas em risco e sobrecarregando ainda mais o sistema de saúde.

O fato é que ainda há poucas evidências robustas disponíveis para orientar as melhores práticas de isolamento.

Uma pesquisa realizada no Japão pelo National Institute of Infectious Diseases (NIID) e o Disease Control and Prevention Center do National Center for Global Health and Medicine (NCGM/DCC) sugere que o pico de carga viral infectante da Ômicron ocorre entre o terceiro e o sexto dias após o diagnóstico ou o início dos sintomas de infecção pelo SARS-CoV-2. O trabalho também indica que pacientes vacinados contra o vírus têm baixa probabilidade de transmissão 10 dias após o diagnóstico ou o início dos sintomas da doença.

O estudo avaliou 83 amostras respiratórias de 21 pacientes com COVID-19: dezenove vacinados e dois não vacinados, dos quais quatro estavam assintomáticos e 17 apresentavam sintomas leves. As amostras foram submetidas a quantificação e isolamento do vírus. A partir do sexto dia, a quantidade de RNA viral e de isolamento do vírus passou a diminuir gradualmente com o passar do tempo, apresentando uma queda acentuada após o décimo dia. Nenhum vírus infeccioso foi detectado nas amostras respiratórias dos participantes após o décimo dia. Com base neste estudo, no sétimo dia, em torno de 13% a 20% das pessoas ainda estariam transmitindo o vírus. No décimo dia, isso cai para 5%.

Uma limitação do trabalho em tela, que ainda não foi revisado por pares, é o pequeno tamanho da amostra. Como ainda não foi divulgada a informação completa, os estudos ainda precisam esclarecer com relação a vacinado/não vacinado, e se os indivíduos eram adequadamente vacinados. Sabemos que, para a Ômicron, a terceira dose é necessária na maioria dos casos. Também não foi divulgado o tipo de vacina, uma informação importante para no futuro priorizar vacinas que ajudam a reduzir a carga viral.

Há um outro trabalho do grupo de Harvard, que dá indícios parecidos. A pesquisa norte-americana considerou a fração de testes com valor do limiar do ciclo (Ct, do inglês Cycle threshold) de PCR < 30 como parâmetro de potencial infectividade e positividade do teste de antígeno. Dos indivíduos infectados pela variante Ômicron do SARS-CoV-2, cuja infecção foi detectada até um dia após um teste negativo ou inconclusivo, 25,0% apresentaram Ct < 30 no sexto dia e 13,0% no sétimo dia após a detecção. Dos indivíduos infectados pela Ômicron, cuja infecção foi detectada mais de dois dias após um teste negativo ou inconclusivo, 33,3% apresentaram Ct < 30 no sexto dia e 22,2% no sétimo dia após a detecção. Os resultados desta pesquisa também precisam ser revisados por pares.

No final de 2021, a UK Health Security Agency (UKHSA) examinou estratégias para equilibrar os danos sociais da transmissão de doenças e o dano individual de ser isolado, mantendo o efeito protetor do isolamento. Em um trabalho de modelagem, também publicado em um servidor de pré-impressão, os pesquisadores da agência demostraram que a realização de testes rápidos de antígeno a partir do sexto dia, com a exigência de dois testes negativos consecutivos feitos em um intervalo de 24 horas, 79% poderiam ser liberadas do isolamento sem riscos no sétimo dia e 6% precisariam permanecer isoladas até o décimo dia.

É fundamental para este regime que as pessoas não saiam do isolamento precocemente, sem os dois testes rápidos de antígeno negativos, pois há um risco significativo de que elas ainda estejam transmitindo o vírus. Na ausência de testes disponíveis, 5% dos indivíduos infectados seriam liberados com 10 dias de isolamento simples e 1% com 14 dias.

A Ômicron não seria tão diferente da Delta

No Brasil, como no resto do mundo, a variante Ômicron já predomina em relação a sua antecessora. Muitos estudos têm observado que ambas possuem similaridades, o que significa que podem ser tratadas da mesma forma.

A pesquisa realizada pela Harvard University mencionada anteriormente avaliou 10.324 amostras coletadas entre julho de 2021 e janeiro de 2022 pelo programa de saúde ocupacional da National Basketball Association (NBA) dos EUA, o que permitiu comparar 97 casos de infecção pela variante Ômicron versus 107 pela variante Delta.

Em média, o tempo de infecção pela Ômicron foi de 9,87 dias (intervalo de confiança, IC, de 95%, de 8,83 a 10,9) e o de infecção pela Delta foi de 10,9 dias (IC de 95%, de 9,41 a 12,4). O pico de RNA viral baseado nos valores de Ct do PCR foi menor para infecções pela Ômicron (Ct: 23,3; IC de 95%, de 22,4 a 24,3) do que pela Delta (Ct: 20,5, IC de 95%, de 19,2 a 21,8). A fase de clearance foi menor para infecções pela Ômicron (5,35 dias; IC de 95%, de 4,78 a 6,00) do que pela Delta (6,23 dias; IC de 95%, de 5,43 a 7,17).

Os autores afirmaram que não está claro se essas pequenas diferenças são características intrínsecas da variante Ômicron ou se podem ser atribuídas à imunidade da população dos EUA, agora amplamente vacinada.

Por enquanto, os dados disponíveis para pautar a elaboração de políticas de isolamento são preliminares e só foram divulgados em servidores de pré-impressão.

Finalizando, estamos em um momento de escassez de testes e de insumos para testagem. Por isso, precisamos de subsídios para as melhores práticas de isolamento. Na pandemia não existem respostas fáceis, mas já existem dados para fundamentar a tomada de decisões.

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